Nunca Fui Santa: Surpresa LGBTQIAP+ em Meio ao Humor e Crítica Social — Resenha by Soso

Nunca Fui Santa (1999)


Direção: Jamie Rabbit
Produção: Andrea Sperling, Leanna Creel
Roteiro: Brian Wayne Peterson
Gênero: Comédia Romântica, LGBTQIAP+, Aventura
Música: Pat Irwin
Cinematografia: Jules Labarthe
Data de Lançamento: 12 de setembro de 1999.
Elenco: Natasha Lyonne, Clea DuVall, RuPaul Charles, Cathy Moriarty, Mink Stole.
Classificação Indicativa: +12

Sinopse: O filme gira em torno de Megan, uma menina que vive uma vida normal no ensino médio, tem um namorado, amigos e pais conservadores. Entretanto, eles casualmente descobrem que ela "não é normal" e pode se sentir atraída por mulheres, deste modo, a mandam para um acampamento que irá curá-la.

Decidi assistir Nunca Fui Santa (But I'm a Cheerleader) de maneira bem despretensiosa. O filme apareceu casualmente no meu feed do Bluesky e, sem saber muito sobre ele (exceto que a protagonista era linda) resolvi dar uma chance. Eu sequer sabia que o filme tratava de questões LGBTQIAP+, e foi uma grande (e agradável) surpresa.

Megan: Uma Protagonista Difícil de Gostar

Megan, a protagonista, é uma personagem que me levou um bom tempo para começar a gostar. No início, algumas atitudes meio “dedo-duro” dela me irritaram bastante, toda a falta de noção dela me fazia querer dropar o filme. É claro que, com o tempo, entendi que ela via o mundo de uma perspectiva homofóbica, muito por conta de sua criação em uma família cristã conservadora. Ela era aquela menina "certinha", com amigos que não lhe deram apoio algum em sua jornada de autodescoberta. A partir disso, comecei a entender um pouco mais seus posicionamentos, por mais que no início me frustrassem.

Heterossexualidade Compulsória e Repressão

O filme trabalha muito com o conceito de heterossexualidade compulsória; vários personagens estão presos a comportamentos que usam para mascarar quem realmente são, seja por pressão social, familiar ou por não entenderem ainda suas próprias identidades. É, de certa forma, doloroso assistir às várias formas de repressão e homofobia. E o que mais me incomodou foram os estereótipos de homofobia velada pelos pais dos personagens. Nenhum dos pais ou mães é realmente decente! Eles estão tão presos à visão "perfeita" que têm dos filhos que se recusam a aceitar qualquer coisa que fuja disso.

Esse tipo de homofobia, disfarçada de “preocupação”, é uma das coisas mais difíceis de assistir, pois são aqueles que deveriam acolher que acabam rejeitando. Nenhum dos pais presentes no filme parece se dar conta do absurdo que é mandar seus filhos para um "curso de como ser hétero", uma verdadeira loucura. Eles estão cegos pela ideia de que podem moldar os filhos para encaixá-los em um padrão social que nem deveria existir.

Aceitação e Identidade: “Apenas Seja Quem Você É”

Um dos momentos mais importantes do filme, para mim, é quando Megan, já percebendo que é lésbica, pergunta a um homem gay como deveria agir agora que sabe disso. A resposta dele é simples e certa: "Apenas seja quem você é." Isso reflete muito o coração do filme – no final das contas, sua identidade não te transforma em outra pessoa. O que muda é simplesmente quem você ama, e isso não deveria alterar em nada o que você é como indivíduo.

Gostaria que o filme tivesse mostrado pelo menos um ou dois pais que fossem compreensivos. Acredito que incluir personagens paternos ou maternos mais acolhedores poderia ter dado um toque a mais de esperança, especialmente em uma história tão carregada de repressão.

Um Final Um Tanto Aberto

O final de Nunca Fui Santa é um pouco aberto. Eu, particularmente, fiquei com vontade de saber mais sobre como foi a vida de Megan depois de tudo que aconteceu. A jornada de autodescoberta e aceitação é longa, e o filme termina em um ponto onde muitas perguntas ainda ficam em suspenso. Claro, isso pode ter sido intencional, para nos fazer pensar no que vem depois, mas, para mim, faltou um fechamento mais claro.

A Inutilidade da Repressão

Por fim, o filme deixa uma mensagem poderosa: não importa o quanto você tente reprimir a identidade de alguém, isso não vai mudar quem a pessoa realmente é. Forçar alguém a beijar pessoas do sexo oposto ou tentar moldá-los em uma fôrma heteronormativa só dificulta o processo de aceitação. No fim das contas, Nunca Fui Santa mostra que ser quem somos não é algo que pode ser "consertado" ou reprimido.

Com sua mistura de humor, crítica social e uma pitada de romance, o filme é uma ótima opção para quem quer assistir a uma história leve, mas ao mesmo tempo carregada de reflexões importantes sobre identidade, aceitação e amor próprio. E, claro, com uma protagonista que, depois de um começo complicado, acaba conquistando o coração do público.

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